São Paulo - Alexandre Mutram, diretor de atendimento da agência Tudo, em São Paulo: "Se eu não fosse ativo, minha carreira teria estagnado". A palavra “proatividade” entrou para o vocabulário corporativo há muito tempo. Seu significado, em bom português, descreve a habilidade de partir para a ação sem ficar esperando o chefe mandar. Pessoas proativas procuram informações e oportunidades para fazer as coisas acontecerem. Seis em cada dez empregadores citam esse comportamento como uma das cinco atitudes que mais procuram nos candidatos a uma vaga de emprego.
“Pessoas proativas buscam naturalmente novos desafios, procuram respostas diferentes para os problemas e engajam as pessoas. A proatividade está intimamente relacionada ao aumento de produtividade”, diz Glaucy Bocci, gerente e líder da prática de liderança e talento da Hay Group Brasil. Outro significado para proatividade diz respeito à capacidade de antever a mudança de contexto interno, ou o cenário de negócios, e agir. Sob essa perspectiva, os professores Leonardo Araújo e Rogério Gava, ambos da Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte, estudaram durante cinco anos o comportamento de 257 organizações no Brasil para entender como os funcionários, em especial os líderes, podem atuar de forma proativa.
O resultado deu origem ao livro Empresas Proativas: Como Antecipar Mudanças no Mercado, lançado pela Editora Campus/Elsevier no fim de 2011. No livro, os professores usam a palavra “ativo” para definir empresas e pessoas que tomam a iniciativa antes dos outros. O contrário disso são os empregados reativos, que respondem às mudanças de cenário e contexto. A conclusão dos dois: organizações reativas se tornam obsoletas, perdem participação no mercado e, no limite, fecham suas portas. Para o profissional, o diagnóstico é parecido: estagnação na carreira e demissão. “Ser proativo é uma escolha. É engano pensar que essa atitude é algo que nasce com a pessoa. É possível desenvolvê-la, basta querer”, diz Leonardo Araújo.
Buscar a orientação de gente mais experiente, reconhecida pela capacidade de agir e de propor novidades, pode ensinar como ser ágil e dar as respostas certas antes dos colegas de equipe. Cuidado para não ser tachado de bajulador. “Para evitar essa confusão, seja coerente com suas atitudes e aja de maneira objetiva e profissional”, diz Vera Costa, consultora organizacional e coach do Instituto EcoSocial, de São Paulo. Buscar novos conhecimentos, ver tendências e novidades fora de seu cargo e mercado são obrigações para quem quer ser reconhecido como proativo. “Entre as características desse perfil estão a indignação e o questionamento. O importante é não ficar preso à sua atividade”, diz Vera.
O catarinense Roberto Silveira, de 41 anos, conseguiu sair da condição de candidato à demissão da empresa de representação de calçados, na região de Itajaí, em Santa Catarina, para se tornar o campeão nacional de vendas com louvor em 2011 pela própria fabricante. Com o objetivo traçado, Roberto começou a estudar, a se informar sobre tudo o que acontecia no mercado e traçar estratégias de negócios. Desde então já ganhou vários prêmios de reconhecimento pelas ideias que teve para aumentar as vendas, como iPad, viagem e um carro zero.
“Depois disso, resolvi sair da companhia e abri minha própria representação. Eu queria ser reconhecido profissionalmente.” Segundo Leonardo Araújo, da Dom Cabral, o papel do líder é fundamental para desenvolver a proatividade do time. No livro, os pesquisadores mostram que existem quatro comportamentos que motivam uma atitude mais ativa diante do trabalho. A primeira delas tem a ver com a inspiração.
“Líderes que creem na mudança fazem as pessoas acreditarem que ela é possível. Eles criam e comunicam essa visão. Ao fazer isso, geram confiança e entusiamo”, diz Leonardo. Steve Jobs é o exemplo mais emblemático. Os funcionários da Apple continuam tocando a organização de acordo com os mesmos preceitos de seu fundador, morto em outubro do ano passado. A segunda atitude do chefe é o que Leonardo e Rogério chamam de “estimulação”, e diz respeito às novas formas de enxergar velhos problemas.
A terceira ação é o reconhecimento. Mostrar ao time que a atitude ativa de um funcionário é valorizada. Por último, há o carisma. Ele faz do líder um modelo e exemplo a ser seguido. Claro, para isso o líder deve ser um exemplo de proatividade. O paulista Alexandre Mutram, de 39 anos, é uma dessas pessoas que sempre fazem as coisas antes que lhe peçam. Ele se inspirou num chefe que constantemente o incentivava a partir para a ação.
“Ele dizia que ‘na dúvida chute para o gol’, se acertar 10% já está ótimo.” Hoje, Alexandre é diretor de atendimento da agência Tudo, de publicidade e eventos, em São Paulo. “Se eu não fosse ativo, minha carreira teria estagnado.” A pesquisa da Dom Cabral mostra que há setores que exigem indivíduos com maior capacidade proativa que outros.
As áreas de bens de consumo e tecnologia requerem profissionais com muita iniciativa. “Aqui no Buscapé, nas áreas de criatividade e de negócio exigimos profissionais proativos. Nos setores de apoio, como o jurídico, cabem os reativos”, diz Romero Rodrigues, presidente do site Buscapé, em São Paulo. Para Romero, ser autodidata e curioso e reciclar os conhecimentos ajuda a fomentar a atitude proativa.
E como identificar um empregado ou candidato ativo? Há várias maneiras. Uma delas são os questionários de análises de fatos e experiências passadas. Eles são considerados a melhor ferramenta por envolver questões investigativas de cunho pessoal. Na cervejaria Ambev, o comportamento proativo, de propor soluções e questionar, é medido nas dinâmicas de grupo durante o processo de seleção. Nessa situação, os reativos tendem a assistir aos colegas mais desinibidos. Nesse momento, os recrutadores avaliam positivamente o candidato proativo.
Já o candidato reativo recebe dias depois um e-mail em que lê: “Obrigado por participar do processo”. Nem todo recrutador age assim. Na maioria das companhias, há lugar para pessoas proativas e reativas. “Uma das descobertas de nossa pesquisa é que há organizações e pessoas que sabem combinar movimentos proativos com movimentos reativos. Esses se dão melhor no longo prazo”, diz Leonardo, da Dom Cabral. Muitas vezes é preciso cumprir ordens e seguir as regras — é uma situação reativa. E tudo bem. O problema é ser 100% reativo.
O estudo dos professores da mostra que não há organização nem profissional que prosperaram quando deixaram a atitude proativa adormecer. Portanto, mãos à obra.
FONTE: http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/razoes-para-ser-mais-proativo-no-trabalho?page=1